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| Mobilidades. (Imagem: IA) |
A procura de soluções para a mobilidade urbana é tão antiga quanto as cidades. Envolve infraestruturas, meios de transporte e segurança.
Das
infraestruturas medievais de Guimarães, sabemos pouco. As ruas e praças, eram
em terra batida, lamacentas, imundas e malcheirosas, com porcos, galinhas e
gansos a disputarem com as pessoas o espaço de circulação. Só a partir do séc.
XVII é que as calçadas começaram a ser empedradas. Os transportes eram
assegurados por carros puxados por bois, para a condução de cargas, ou por
cavalos, no transporte de pessoas. O comum das gentes circulava a pé. As
posturas concelhias regulavam a circulação, com normas que proibiam o trânsito
de carros ferrados (com as rodas protegidas com aros de ferro), por danificarem
as calçadas, ou durante a noite, por perturbarem o sossego. E os acidentes de
viação já aconteciam. Podiam resultar de avarias nos carros, como rodas ou
eixos partidos, mas os mais frequentes eram provocados por bois ou cavalos
descontrolados ou por condutores imprudentes.
Dentro de
Guimarães não havia qualquer problema com a mobilidade. Todas as distâncias se
percorriam facilmente a pé. Tal como hoje. Os problemas colocavam-se nas
deslocações para outras terras, como o Porto, Braga ou Trás-os-Montes. A
segunda metade do séc. XIX, foi marcada pela construção de vias de ligação a
outras povoações da região. O acontecimento mais transformador foi a chegada do
primeiro comboio à estação do Cavalinho, no dia 14 de março de 1884.
Na circulação
no perímetro urbano, tirando a abertura das avenidas D. Afonso Henriques e
Conde de Margaride, quase nada de relevante aconteceu em Guimarães em mais de
um século, para além de alguma inconstância no revestimento das ruas (a pedra
que substituiu o asfalto que tinha substituído a pedra) ou na implantação de
semáforos. Tirando o alargamento de passeios, as mudanças têm sido mais
estéticas do que funcionais.
Já perdemos a
conta aos estudos de mobilidade, mas nenhum foi aplicado consistentemente.
Apesar das boas intenções anunciadas e de alguns gestos simbólicos, Guimarães
continua a ser uma cidade amiga do automóvel. Para deixar de o ser, faz falta a
determinação que ainda não vimos. Porque mudar implica disponibilidade para
enfrentar resistências, algumas delas ruidosas.
Não é que não
tenhamos tido novidades. Em 2019, noticiava-se que a chegada dos tuque-tuques
colocava Guimarães a par das “principais cidades portuguesas”, depois imaginou-se
um teleférico urbano que elevaria Guimarães à altitude das cidades andinas, agora
inauguram-se as trotinetas e bicicletas elétricas, que anunciam Guimarães “a
iniciar também o seu caminho na descarbonização”, embora se desconfie que não
sejam bem meios de transporte e se saiba que, noutros sítios, são pragas
geradoras de desconforto, conflitos e acidentes. No mínimo, esperámos que
venham acompanhadas de manuais de utilização que expliquem que não podem
circular nos passeios.
Não faz
sentido discutir a mobilidade urbana em Guimarães como se discute em Lisboa ou
no Porto. O problema de Guimarães é o mesmo — a excessiva dependência do
automóvel —, mas mais fácil de resolver, pela dimensão. E, sem ter de inventar,
temos bons modelos para seguir.
Urge assumir
em Guimarães o conceito de cidade dos 15 minutos, já aplicado em Paris,
que consiste em organizar as cidades de modo a que todos os serviços,
equipamentos e bens essenciais estejam acessíveis a uma distância que se
percorre em 15 minutos, a pé. Não é preciso fazê-lo, basta dizê-lo: Guimarães
já é assim.
Por outro
lado, faz sentido aplicar, a toda a cidade e a todos os veículos, o limite
de 30 km/h e ter mesmo a coragem de ir mais além, nas ruas partilhadas por
peões e outros veículos. Bastaria seguir o exemplo de
Pontevedra, cidade de dimensão comparável a Guimarães, onde o trânsito se
adapta ao ritmo dos peões.
E aí teríamos
uma cidade amiga das crianças e de todos os que a habitam,
ambientalmente mais amigável, sustentável e segura e mais atrativa para quem a
visita.
Para esta
revolução, que exige coragem, não vai ser preciso descobrir a roda. Basta pôr
os pés ao caminho.

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