![]() |
| Parimónio e Nicolinas. (Imagem geraga por IA). |
Naquela quinta-feira, viviam-se em Guimarães as horas ansiosas que antecedem os grandes momentos. O presidente da Câmara perambulava pela Praça da Oliveira agarrado ao telemóvel, à espera da notícia da consagração internacional do Centro Histórico. Eram quase quatro da tarde quando a confirmação chegou de Helsínquia, transmitida voz da vereadora Francisca Abreu e logo proclamada por António Magalhães:
A partir de agora, Guimarães é património da humanidade. Muitos
parabéns a todos, muitos parabéns a todos.
Os
sinos repicaram, estouraram os foguetes e as rolhas do Murganheira com que se
brindou a um dos mais belos momentos da história de Guimarães. Estava consumado
o reconhecimento de um processo de recuperação exemplar, que honra Guimarães, os
vimaranenses e, em particular, os seus mentores e obreiros, de Fernando Távora
a Alexandra Gesta, de Óscar Pires a Francisca Abreu, de António Xavier a
António Magalhães, entre tantos outros.
O
reconhecimento pela UNESCO não era o fim do caminho, mas o ponto de partida
para o que faltava caminhar, nomeadamente na valorização das camadas do
património que habita as ruas, as praças e os edifícios — a História, as
tradições, os saberes, a oralidade, o artesanato, a gastronomia, a música, a literatura,
as artes — o património imaterial. Impunha-se, como escrevi então, “fazer, ao
nível da cultura imaterial, algo de semelhante ao que se fez na recuperação arquitetónica
do Centro Histórico”. É certo que algo se andou nesse sentido nas duas décadas
que correram desde então mas, tenhamos a humildade de o reconhecer, com
resultados insuficientes.
O
exemplo mais saliente desta insatisfação é o arrastamento do processo de
candidatura para a inclusão das nossas festas mais carismáticas, as Nicolinas, na
lista representativa do património cultural imaterial da humanidade, instituída
pela Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, aprovada pela
UNESCO em Paris, em 2003, para responder à “necessidade de reforçar a
consciencialização, em particular das gerações jovens, para a importância do
património cultural imaterial e da sua salvaguarda”.
A
ideia foi avançada por Lino Moreira da Silva em janeiro de 2005, no jornal O
Povo de Guimarães, e assumida por unanimidade, por proposta do grupo
parlamentar do PSD, pela Assembleia Municipal de Guimarães, mas não lhe pôde
ser dado seguimento antes da ratificação da convenção da UNESCO pelo Estado
Português, que só aconteceria em março de 2008. Nesse ano, a Assembleia
Municipal aprovou a recomendação da sua comissão de educação para que a Câmara
constituísse uma comissão técnica para a condução do processo de classificação
das Nicolinas e promovesse a realização de estudos científicos especializados.
Em
2011, a Câmara contratualizou com uma equipa liderada pelo antropólogo
Jean-Yves Durand a realização de um estudo que deveria servir de suporte à
candidatura à inclusão das Nicolinas na lista da UNESCO e que deveria ser
entregue até setembro de 2013. Quando foi apresentado, em março de 2014, devia
estar longe de acabado, já que, em março de 2017, o investigador responsável me
pediu para colaborar num ebook, para o qual contribuí substancialmente, pro
bono, mas que, afinal, não era o que me foi dito, mas o relatório do estudo
que, supostamente, já tinha sido apresentado em 2014. A sua apresentação
pública, no final de 2018, foi o último ato público da candidatura das
Nicolinas ao reconhecimento pela UNESCO.
Quando
celebramos os vinte anos da classificação do Centro Histórico, passam dezasseis
sobre a aprovação pela Assembleia Municipal de Guimarães da proposta que
deveria conduzir à formalização da candidatura das Festas Nicolinas ao
reconhecimento pela UNESCO, que continua a marcar passo, quando oito propostas
mais tardias, do fado aos chocalhos, já entraram para a lista.

0 Comentários