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| Guimarães, 10 de Junho de 2005 |
Um de nós, Jorge Sampaio.
Em Guimarães, aprendi a fidelidade às raízes, de uma forma que me marcou
desde muito jovem.
Jorge Sampaio
As raízes familiares de Jorge
Sampaio, do lado paterno, estão em Guimarães. O seu avô, José Leite de
Carvalho, nasceu em 1876, no lugar da Quintã, na freguesia de Mesão Frio. A
avó, Emília de Sampaio Bastos, dez anos mais velha, veio da vila de Fafe, terra
da sua mãe (o pai era de Sendim, Felgueiras). José e Emília casaram em outubro
de 1902, em S. Paio de Vizela, onde a noiva residia. Instalaram-se em Gémeos, no
casal do Ribeiro, onde lhes nasceram três filhos: Maria Amélia, em 1905,
António, em 1908, e Irene, em 1910. Nos registos de batismo, o pai aparece como
capitalista. Da vida pública de José Leite de Carvalho apenas sabemos que foi
vice-presidente da Junta de Paróquia de Gémeos, após a instauração da
República, e que, em agosto de 1911, foi um dos subscritores de um auto de
solidariedade com a República, na sequência de atos contra os símbolos do novo
regime.
O filho usaria o nome de António
Arnaldo de Carvalho de Sampaio. Estudou no Liceu de Guimarães e na Faculdade de
Medicina da Universidade do Porto, onde concluiu a licenciatura em 1933, a que
se seguiu o mestrado em saúde pública na Universidade Johns Hopkins, nos EUA. Entretanto, em abril de 1937, casou com
Fernanda Bensaúde Branco, assentando residência em Sintra. Deste casamento
nascerão dois filhos, Jorge, em 1939, e Daniel, em 1946.
O vimaranense Arnaldo Sampaio foi
defensor da saúde pública (dizia que “a pobreza gerava a doença e a doença
provocava a pobreza”) e um dos médicos mais destacados do século XX. Professor catedrático,
criou os Laboratórios de Bacteriologia e Virologia do Instituto Ricardo Jorge e
o Centro Nacional da Gripe no Instituto Superior de Higiene, foi diretor da Escola Nacional de Saúde Pública e diretor-geral de
saúde e concebeu os centros de saúde portugueses. Foi membro do Comité
Executivo da Organização Mundial de Saúde. Mas nunca esqueceu as suas raízes. Segundo
o seu filho Daniel, Arnaldo Sampaio “não dispensava visitas à sua terra natal
(Guimarães), nem jamais esquecia o que tinha aprendido com os seus
antepassados, pessoas de trabalho para quem a persistência e a honestidade eram
valores fundamentais”.
O seu filho Jorge destacou-se como
um dos mais brilhantes e influentes políticos portugueses do nosso tempo. Foi
Presidente da República e exerceu funções internacionais de grande importância.
Para a minha geração, Jorge Sampaio é o exemplo da nobreza da política, a que se
devotou com humanismo, consciência social, empatia e ética republicana. Do pai,
herdou a inteligência e o amor por Guimarães.
Jorge Sampaio não ocultava as suas emoções. Era um homem que chorava. Nunca lhe escutei um discurso em Guimarães que a voz não se lhe embargasse. Porque, como disse um dia:
“É sempre com emoção que visito Guimarães, revivendo memórias pessoais e retomando laços afetivos que me são caros.”
De Jorge Sampaio retenho o dia em
que apareceu na Sociedade Martins Sarmento e, depois de dizer que “não é todos
os dias que encontramos cidades com uma instituição cultural com a dinâmica e a
importância da SMS”, condecorou Santos Simões; ou o notável discurso na
abertura do centenário da morte de Martins Sarmento; ou o seu genuíno contentamento
no dia em que Guimarães festejou o título de Património Mundial; ou o
simbolismo de ter feito em Guimarães o último 10 de Junho a que presidiu.
Mas, lembro, acima de tudo, o seu
papel na Capital Europeia da Cultura.
Quando todos percebíamos que se
abeirava o desastre, Jorge Sampaio segurou o leme e evitou o naufrágio.
Com Jorge Sampaio, foi um de nós
que partiu.
Não será esquecido.
António
Amaro das Neves

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